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O que é sororidade?
3 anos atrás / 9 min de leitura
Sororidade é o ato de acolher sem julgar outras mulheres. É uma palavra que vem do latim, soror (irmã) trazendo a ideia de uma irmandade feminina. É uma construção de um conceito que envolve empatia, acolhimento e solidariedade entre as mulheres, como sendo a compreensão e conexão das dores e das alegrias do ser mulher, fortalecendo esses laços com sensibilidade.
Esse termo tem vínculo com o feminismo contemporâneo, trazendo a ideia de um ideal de irmandade feminina. Orientando um olhar de uma pra outra com simpatia, acolhimento e colaboração desde situações relacionadas com a rotina, até projetos sistemáticos que necessitem do apoio entre mulheres.
É um termo incorporado já pelo feminismo, graças à disseminação de ideias e o alcance que o movimento tem encontrado ao longo do tempo, como também um aliado das trocas e da fluidez do dia a dia das mulheres.
Um dos marcos para que o termo Sororidade fosse propagado pelos meios de comunicação, foi a 20º edição do programa Big Brother Brasil, quando a sister Manu Gavassi usou o termo para justificar seu voto. Ao ser questionada por um colega de confinamento sobre o que significava, ela disse que ele aprenderia ao sair de casa. O fato foi que a situação aguçou a curiosidade dos telespectadores que fizeram com que as buscas no Google sobre o assunto aumentassem 250%.
Em resumo, a Sororidade tem uma função muito importante que é desconstruir a rivalidade feminina que há tanto tempo foi colocada entre as mulheres. Diz respeito ao comportamento de não julgar, acolher e ouvir com respeito às reivindicações de todas.
Isso não quer dizer que todas as mulheres precisam se gostar, mas sim que elas saibam se colocar no lugar da outra e respeitar o contexto e a particularidade de cada uma. Por esse motivo, a sororidade é tão necessária nesse movimento de reconhecimento uma nas outras, para trazer o sentimento de união e de construção.
Mas, de onde exatamente o termo veio? A seguir vamos entender como ele nasceu e suas definições.
Quando surgiu o termo sororidade?
Uma das maiores discussões sobre esse assunto é se o termo refere-se a uma essência já da mulher, ou se é uma construção dos movimentos sociais e feministas conectados com a moral que diz respeito a questões políticas e econômicas.
A origem exata do termo é desconhecida mas em 2012 já se falava de universidades norte-americanas onde grupos de mulheres denominavam-se “sororities”. A troca de informações e experiências também se deu a partir da formação dessas micro comunidades com interesse em comum.
Mas o que se sabe é que durante a quarta onda do feminismo, a revolução das redes sociais trouxe mais do que apenas a tecnologia. Ela possibilitou a formação de comunidades e, encorajadas uma pelas outras, foi possível que relatos de abusos, desabafos e denúncias fossem popularizados, o que gerou muita troca de ideias e empatia por parte de quem também tinha uma história para contar, fortalecendo assim o movimento. Essa foi então uma das formas mais importantes de se praticar o feminismo.
Qual a diferença entre feminismo e sororidade?
Se sororidade não é o mesmo que feminismo, então de alguma forma está relacionada, qual a diferença? Poderíamos definir como uma aliança dentro do feminismo. Uma aliança que traz a consciência do que é uma conduta que fere o ser mulher. A sororidade é esse apoio dentro feminismo, um suporte.
A luta pelas necessidades femininas passa pela mudança de estigmas e busca por igualdade, com a sororidade ela é fortalecida e quebra os preconceitos e ideologias que não condizem com essa união feminina.
Na prática, a sororidade se encontra nos diversos níveis sociais, econômicos e políticos entre muitas mulheres de diferentes trajetórias trazendo à luz um esforço com o propósito de superação que alavanca e equaliza esse desnível para além do patriarcado.
Esse esforço consciente não é nada utópico e vem com muita resistência e consciência, gerando precedentes para mulheres que buscam evolução e se deparam com caminhos já pavimentados por outras. A sororidade é a resposta à misoginia, que significa aversão ou ódio a mulheres e que, no extremo do machismo estrutural, fala sobre a rivalidade feminina.
Essa desconstrução dá o poder umas às outras em situações práticas e rotineiras, reveste-se de uma camada política para realocar esse poder e transforma-se na solução da misoginia. Mas nunca esquecendo de levar em consideração todas as variáveis, como a classe social, etnia, bagagem intelectual, entre outras, o que também difere a relação do feminismo com a prática da sororidade.
Qual a importância da sororidade?
Na luta pela sobrevivência, os primitivos competiam na mesma proporção com que colaboraram entre si. Porém a forma de competição entre mulheres e homens era diferente. Para eles, essa competição acontece no trabalho, esportes, alcance do sucesso. Já para elas, ocorre nas relações afetivas.
Está naquele sentimento de culpa que a mulher atribui a outra pelo final de um relacionamento, quando busca uma validação masculina, ou quando desacredita de denúncias de agressão e julga os comportamentos e características físicas de uma mulher com uma régua muito maior que a de um homem.
Esses são comportamentos que alimentam a rivalidade e distanciam as mulheres uma das outras. É necessário que se perceba os padrões da manutenção desse comportamento para eliminá-lo coletivamente. Dessa forma, a mulher ganha voz, já que sozinha existe uma dificuldade em ser validada. Essa união é o que fortalece os movimentos, fazendo com que sejam ouvidas e dando força para que a mudança estrutural aconteça.
Para uma prática efetiva de sororidade, algumas ações são necessárias, como: igualdade de critérios para avaliar comportamentos de homens e de mulheres, não rivalidade entre mulheres, não culpar uma mulher vítima de violência e ajudar uma mulher que demonstra precisar de ajuda. Essas atitudes contribuem para a coesão social e igualdade nas relações. Esse é o significado de sororidade: a cooperação que possui como objetivo a equidade entre homens e mulheres e não só e entre as próprias mulheres.
Como praticar a sororidade?
Muitas são as possibilidades quando falamos de sororidade na prática. Existem hoje, vários grupos de mulheres organizadas em coletivos que prestam orientações a outras mulheres e ilustram muito bem o que é esperado quando falamos sobre o tema.
Mas não é só dessa forma que podemos praticar. Devemos lembrar de que existem processos que foram construídos para a invisibilizar, desacreditar e inferiorizar mulheres. O contrário disso são ações afetivas propositais de acolhimento e integração na qual estamos construindo para reverter esse cenário.
Atitudes como respeitar a forma de vida escolhida de todas as mulheres, elogiá-las, apoiar o trabalho feminino, se desfazer de conceitos machistas que julgam e menosprezam outras mulheres faz parte do rol de atitudes saudáveis.
Abaixo listamos alguns tópicos importantes para que a sororidade seja incorporada no dia-a-dia e o movimento ganhe força.
Comunique a sororidade
Estamos falando de mulheres que cresceram nesse ambiente entendendo que competir umas com as outras é o natural, e por vezes, até se espantam quando o contrário acontece. Explique, compartilhe sobre o quanto essas atitudes são desnecessárias e só geram afastamento de quem poderia ser uma forte aliada aos processos uma das outras.
Interaja com o trabalho de outras mulheres
O que você tem consumido vem de mulheres? Fortalecer esse mercado é uma forma de empoderar mulheres através do poder aquisitivo e se conectar com as verdades uma das outras.
Existem mulheres em todos os setores, considere contratar uma encanadora, ou uma eletricista na próxima vez em que precisar de manutenção nessas áreas. Elas existem dentro do setor, mas ainda precisam de muita visibilidade em mercados dominados por homens. Você pode ajudar também compartilhando, elogiando e divulgando os trabalhos de outras mulheres.
Não enxergue outras mulheres como rivais
Talvez esse seja um dos principais pontos dessa leitura. Desconstruir a ideia de que mulheres são inimigas é um dos passos mais importantes dentro da sororidade. É um comportamento incentivado desde muito cedo para as meninas e o resultado é uma divisão entre elas.
Não alimente esse hábito entre meninas e não incentive outras mulheres a pensarem dessa forma também, o diálogo é o melhor caminho para essa abertura de mente. Ao invés de chamar outra mulher de “inimiga”, mesmo na brincadeira, tente colocar a mão na consciência e ver que esse termo pode trazer uma série de malefícios para a convivência em sociedade. Mulheres não devem ser adversárias, pois não são inimigas umas das outras.
Não critique sem saber antes
Lembre-se que, assim como você, cada mulher possui sua trajetória, sua história de vida, seus traumas… E o significado e leitura de algumas situações vem sempre carregado desses estereótipos aprendidos desde sempre por elas.
O julgamento é uma atitude natural do ser humano, estamos constantemente julgando pessoas e situações com o nosso filtro de maneira automática e prática. Mas quando estamos falando de empoderar outras mulheres, esses julgamentos só reforçam a fraqueza que a divisão feminina causa na sociedade.
Não reproduza falas machistas quando presenciar situações de extremo estresse emocional, ou mulheres usando roupas curtas, por exemplo. Não é possível todas pensar da mesma forma, mas é necessário que o respeito seja a principal arma para praticar a sororidade em sua forma mais pura.
Empodere outras mulheres
Sabe aquela mulher que tem um trabalho lindo, mas vive numa situação de desgaste emocional, ou em relacionamentos que a deixam muito pequena? Incentive, escute e esteja presente. Existem situações que só nos damos conta depois que olhamos com a ótica dos outros e isso se dá através da escuta e do apoio. Pense no que você pode fazer por outra mulher hoje e busque sempre elogiar não só características físicas, mas atributos relacionados a trabalho e questões sociais uma das outras.
Seja uma liderança feminina
Além do campo das ideias, há muito que se pode fazer na prática para influenciar outras mulheres. Pense em como usar sua profissão ou o seu meio social para formar grupos de apoio que auxiliem mulheres no seu bairro, por exemplo. Existem mudanças que só são conquistadas através de leis e ocupar esses espaços que muitas vezes são dominados por homens e seus interesses, é a forma mais efetiva para ganhar visibilidade e trazer a mudança sendo espelho para tantas outras mulheres.
Compartilhe seus conhecimentos
Existem mulheres que não tiveram, ou pouco tiveram oportunidades ao longo de suas vidas. Sem dúvida, algumas delas gostariam que tivesse sido diferente em algum momento, e são nessas ocasiões que as trocas podem ser feitas a fim de se ajudar. Pense no que você pode compartilhar, um novo idioma, ensinar a cozinhar ou consertar algo, são exemplos de como compartilhar o que sabe pode mudar a vida de uma mulher. Ensinar e ver outras mulheres crescer também é sororidade.
Seja empático
Colocar-se no lugar da outra é uma afirmação um tanto clichê, eu sei. Mas quando falamos de maternidade, por exemplo, é uma situação que cai muito bem. Se você é mãe, já se identificou com a solidão da maternidade, ou com alguma característica como: ser mãe solo, mãe de primeira viagem se sentindo perdida, a que tem muitos filhos, a que precisa se ausentar para trabalhar, etc.
É um processo revolucionário na vida de uma mulher e você sente que já te faltou algo durante esse momento? E para você que não é mãe, quantas amigas com filhos fazem parte do seu círculo de amizades? Independente da situação, todas precisam de apoio. Você pode ajudar uma mãe diretamente, ou pode apenas não julgar, não dar palpites, respeitar as escolhas e jamais incentivar que outras mulheres façam isso.
Ouça mulheres com experiências diferentes das suas
Lembre-se que muitas habilidades, atitudes ou opiniões só podem ser construídas com a experiência, e ouvir mulheres que falam a partir dessas vivências pode te mostrar possibilidades e visões que somente na sua bolha social você não teria esse acesso. Leia textos, converse sobre etnia, outras culturas, outras classes sociais, crenças e etc. Além da troca que terão, uma pode trazer visões diferentes a outra, contribuindo para seus processos.
Fortalecer para criar
Ainda existem muitos caminhos a andar até que os muros sejam derrubados entre as mulheres, mas essas atitudes já demonstram parte da solução de um problema enraizado na sociedade desde sempre. Atitudes que sejam desde um abraço, ouvir um desabafo, oferecer-se para cuidar do filho bebê por algumas horas pode fazer toda a diferença. Assim como, ensinar alguma habilidade, indicar vaga de emprego, divulgar o trabalho, até dar assistência jurídica, votar e engajar-se na campanha eleitoral de outra mulher, são ações que podem mudar o contexto de muitas mulheres.
Procurar aliados entre homens e mulheres também é um ponto importante que busca a igualdade. Quando presenciar uma situação de injustiça ou machismo, mostre seu desconforto. Você também pode de forma gentil apontar que a atitude é inadequada. Se estiver em uma posição de liderança, incentive ações e campanhas que ajudem os homens a se tornarem aliados da diversidade, superando o machismo.
Aja sempre como uma aliada. O apoio e empatia das colegas é essencial para que as mulheres consigam se fortalecer em ambientes competitivos de trabalho. É importante ressaltar que não é sobre ter afinidade entre todas as mulheres, mas entender que as diferentes vivências trazem uma pressão em comum: a de gênero, e isso precisa ser olhado diferente.
Essa é uma construção crescente que ganha força a cada dia e o compartilhamento dessas informações é muito importante para a disseminação desse conhecimento. E a BigFral Moviment também quer ser uma aliada, a linha foi desenvolvida para mulheres que estão na luta e não podem parar, oferecendo proteção e conforto para aqueles escapes de urina que acabam incomodando, mas não podem nos impedir de lutar. Então aqui fica o convite: que tal indicar essa leitura para outras mulheres?